terça-feira, 21 de julho de 2015

A Arte de Correr Riscos

A Arte de Correr Riscos
Me lembro quando era criança, vivia com os cotovelos e joelhos todos ralados, as unhas dos dedões dos pés eram alvos de topadas que doíam pra caramba, andar descalço, jogar bola, pisar em espinhos, prego ou cacos de vidros, correr atrás  de borboletas, pegar vaga-lumes e colocar no vidro, fazer todo tipo de traquinagem era minha especialidade, não tinha tempo pra ver TV ou jogar vídeo game pois a minha agenda era lotada de arte e diversão, metido a inventor e a tentar consertar tudo [mais quebrava que consertava], ainda bem que naquela época não existia internet e celular, então meu mundo era um paralelo entre a diversão e a adrenalina de correr da cinta da minha mãe. Sempre fui motivado pelos desafios e pela busca constante de evolução, nunca gostei de comodismo. Ainda carrego comigo algumas cicatrizes das traquinagens que aprontei e quando olho para elas me recordo de como era ousado e destemido. Cada cicatriz conta uma história as vezes boa, as vezes dolorida, mas na época cada machucado era como troféu, passava o tal merthiolate aquele bem vermelho e fazia questão de mostrar aos colegas.

Quando nos tornamos adultos a carga de responsabilidades que adquirimos nos faz pensar, planejar antes de tomar uma atitude, pois sabemos das consequências das ações. Isso nos leva a ser mais cautelosos, responsáveis e automaticamente medrosos de forma instintiva. Deixamos de ser crianças e passamos a encarar os desafios de forma diferente e acabamos perdendo pelo caminho a essência da felicidade de ser criança e correr riscos, falar o que vem na cabeça sem medo de ser reprendido, ousar andar ou empinar a bicicleta, dar risada das coisas mais inocentes da vida e ter uns parafusos a menos.

Crescer é inevitável, sendo a ordem natural dos seres vivos, mas com isso passamos a analisar mais os riscos. Então a grande maioria das pessoas caem no comodismo por medo de correr riscos e ousar, tornando a vida chata e monótona. Alguns parafusos a menos nos levam a perceber que a vida, acima de tudo, é uma aposta. Quando falamos em arriscar – seja para aprender a andar de bicicleta ou largar aquele emprego chato – invariavelmente pensamos nas chances de algo dar certo ou não. E, dentro da margem de erro, é fácil apostar que os nossos sonhos são improváveis e que as coisas vão dar errado. Por isso o ser humano adulto tende a seguir o caminho mais seguro e correr menos riscos, mas nem sempre esse é o caminho da tão sonhada felicidade.

Não existe uma receita pronta para ser feliz. E a vida também não permite atalhos. Cada jornada é única: cabe a nós ter coragem para trilhar o nosso caminho e não aquele cheio de tijolos amarelos, que nos apontam rumo à estabilidade financeira, prestígio social, ternos e gravatas. Porque se a gente não pegar para viver os nossos sonhos, vai acabar vivendo o dos outros. E aí, o único risco que corremos é o de passar nossa jornada decepcionados por não termos conseguido nos encaixar nas expectativas que nos foram propostas. “Quantas vezes não nos encontramos com uma pessoa que tem uma situação de vida considerada ideal, um bom emprego, uma família como manda o figurino, uma situação financeira estável e está insatisfeita, deprimida, infeliz?”.  É um equívoco acreditar que existe um ideal comum que devemos perseguir. Toda vez que damos um passo, todo o nosso mundo sai do lugar. Talvez, por isso, seja tão difícil dar o pontapé inicial nessa coisa de ser feliz. 

A grande briga é interna,  porque, quando a gente se arrisca, também se questiona se o que está fazendo é loucura. Mas passa. É só pensar: se não der certo, a gente começa de novo. Eu sei, estou sendo otimista com essa coisa de correr riscos e também entendo que, às vezes, quando a gente se joga pode dar com a cara na parede. Eu prefiro arriscar do que me arrepender de não ter tentado, e você ?

"...
Rir é correr risco de parecer tolo.
Chorar é correr o risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade.
Somente a pessoa que corre riscos é livre !
..."

Baseado em: Vida Simples