Me lembro quando era
criança, vivia com os cotovelos e joelhos todos ralados, as unhas dos dedões
dos pés eram alvos de topadas que doíam pra caramba, andar descalço, jogar
bola, pisar em espinhos, prego ou cacos de vidros, correr atrás de borboletas, pegar vaga-lumes e colocar no
vidro, fazer todo tipo de traquinagem era minha especialidade, não tinha tempo
pra ver TV ou jogar vídeo game pois a minha agenda era lotada de arte e
diversão, metido a inventor e a tentar consertar tudo [mais quebrava que
consertava], ainda bem que naquela época não existia internet e celular, então
meu mundo era um paralelo entre a diversão e a adrenalina de correr da cinta da
minha mãe. Sempre fui motivado pelos desafios e pela busca constante de
evolução, nunca gostei de comodismo. Ainda carrego comigo algumas cicatrizes
das traquinagens que aprontei e quando olho para elas me recordo de como era
ousado e destemido. Cada cicatriz conta uma história as vezes boa, as vezes
dolorida, mas na época cada machucado era como troféu, passava o tal
merthiolate aquele bem vermelho e fazia questão de mostrar aos colegas.
Quando nos tornamos
adultos a carga de responsabilidades que adquirimos nos faz pensar, planejar
antes de tomar uma atitude, pois sabemos das consequências das ações. Isso nos
leva a ser mais cautelosos, responsáveis e automaticamente medrosos de forma instintiva.
Deixamos de ser crianças e passamos a encarar os desafios de forma diferente e
acabamos perdendo pelo caminho a essência da felicidade de ser criança e correr
riscos, falar o que vem na cabeça sem medo de ser reprendido, ousar andar ou
empinar a bicicleta, dar risada das coisas mais inocentes da vida e ter uns
parafusos a menos.
Crescer é
inevitável, sendo a ordem natural dos seres vivos, mas com isso passamos a
analisar mais os riscos. Então a grande maioria das pessoas caem no comodismo
por medo de correr riscos e ousar, tornando a vida chata e monótona. Alguns parafusos a
menos nos levam a perceber que a vida, acima de tudo, é uma aposta. Quando
falamos em arriscar – seja para aprender a andar de bicicleta ou largar aquele
emprego chato – invariavelmente pensamos nas chances de algo dar certo ou não.
E, dentro da margem de erro, é fácil apostar que os nossos sonhos são
improváveis e que as coisas vão dar errado. Por isso o ser humano adulto
tende a seguir o caminho mais seguro e correr menos riscos, mas nem sempre esse
é o caminho da tão sonhada felicidade.
Não existe uma
receita pronta para ser feliz. E a vida também não permite atalhos. Cada
jornada é única: cabe a nós ter coragem para trilhar o nosso caminho e não
aquele cheio de tijolos amarelos, que nos apontam rumo à estabilidade
financeira, prestígio social, ternos e gravatas. Porque se a gente não pegar
para viver os nossos sonhos, vai acabar vivendo o dos outros. E aí, o único
risco que corremos é o de passar nossa jornada decepcionados por não termos
conseguido nos encaixar nas expectativas que nos foram propostas. “Quantas
vezes não nos encontramos com uma pessoa que tem uma situação de vida
considerada ideal, um bom emprego, uma família como manda o figurino, uma
situação financeira estável e está insatisfeita, deprimida, infeliz?”. É
um equívoco acreditar que existe um ideal comum que devemos perseguir. Toda vez
que damos um passo, todo o nosso mundo sai do lugar. Talvez, por isso, seja tão
difícil dar o pontapé inicial nessa coisa de ser feliz.
A grande briga é
interna, porque, quando a gente se
arrisca, também se questiona se o que está fazendo é loucura. Mas passa. É só
pensar: se não der certo, a gente começa de novo. Eu sei, estou sendo otimista
com essa coisa de correr riscos e também entendo que, às vezes, quando a gente
se joga pode dar com a cara na parede. Eu prefiro arriscar do que me arrepender
de não ter tentado, e você ?
"...
Rir é correr risco
de parecer tolo.
Chorar é correr o
risco de parecer sentimental.
Estender a mão é
correr o risco de se envolver.
Expor seus
sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos
e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o
risco de não ser correspondido.
Viver é correr o
risco de morrer.
Confiar é correr o
risco de se decepcionar.
Tentar é correr o
risco de fracassar.
Mas os riscos devem
ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não
correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até
evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada,
não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por
suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade.
Somente a pessoa que
corre riscos é livre !
..."
Baseado em: Vida Simples
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